Lula classifica guerra na Ucrânia como “insanidade mental” e reforça proposta de mediação com apoio da China
Internacional

Os conflitos entre Rússia e Ucrânia, que já se arrastam por mais de três anos desde sua eclosão em fevereiro de 2022, continuam gerando tensão na comunidade internacional. Em meio ao prolongamento das hostilidades e ao aumento recente nos combates, líderes mundiais voltaram a se posicionar em defesa de uma solução diplomática. Um dos principais destaques desse movimento ocorreu nesta quinta-feira (5), em Paris, durante uma declaração conjunta do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do presidente da França, Emmanuel Macron.
Durante o encontro na capital francesa, parte de sua agenda diplomática na Europa, Lula voltou a condenar a guerra e chamou o conflito de “insanidade mental”. Segundo o presidente brasileiro, o prolongamento da guerra já ultrapassou os limites da racionalidade. “Eu disse isso pessoalmente ao Putin. Chegou um momento em que as pessoas já sabem no que isso vai dar. Já está mais do que provado a insanidade mental da guerra. Ela não constrói nada, ela destrói”, afirmou Lula, em tom crítico e direto.
Brasil e China como mediadores
Lula reiterou o posicionamento do Brasil em favor da paz e reforçou a disposição de seu governo em atuar como mediador para um possível cessar-fogo, em conjunto com a China. A proposta, segundo ele, já foi amplamente discutida com o presidente chinês, Xi Jinping. “Discuti muito com o Xi Jinping. Nos colocamos à disposição. Quando os dois lados quiserem negociar a paz, daremos nossa contribuição”, garantiu Lula, enfatizando que o Brasil pretende atuar de forma neutra, dialogando com ambos os lados do conflito.
O presidente brasileiro também teceu críticas à atuação da Organização das Nações Unidas (ONU), ao considerar que a entidade perdeu protagonismo e influência política diante do atual cenário geopolítico. “A ONU está fragilizada. Tem pouco poder para dar opinião sobre a guerra”, observou.
Macron pede mais pressão internacional contra Moscou
Em sua declaração, o presidente Emmanuel Macron adotou um tom mais firme ao reforçar a posição da França de apoio à Ucrânia. Para o líder francês, é preciso deixar claro quem iniciou o conflito. “Há um agressor, a Rússia, e um agredido, a Ucrânia. Todos queremos a paz, mas os dois não podem ser tratados em pé de igualdade”, afirmou.
Macron também apelou para que a comunidade internacional amplie a pressão sobre Moscou como forma de acelerar o fim das hostilidades. “Americanos, brasileiros, chineses, indianos — devemos todos fazer pressão sobre a Rússia para que ela ponha um termo a esta guerra, para que este conflito possa ser negociado e que a guerra não possa voltar”, declarou o francês, apontando para uma solução multilateral e negociada, mas sem deixar de responsabilizar o Kremlin.
Conflito se intensifica, mas há sinais de diálogo
Nos últimos meses, o conflito voltou a se intensificar. As tropas russas avançaram em várias frentes no leste da Ucrânia, enquanto Kiev passou a realizar ataques em território russo, incluindo incursões com drones e bombardeios em regiões de fronteira. Apesar da escalada, sinais pontuais de reabertura diplomática surgiram recentemente: representantes de Rússia e Ucrânia retomaram conversas preliminares na Turquia no mês passado, o que reacendeu, ainda que timidamente, a esperança por um caminho de negociação.
Analistas internacionais avaliam que, embora o momento ainda seja de endurecimento retórico e aumento da pressão militar, o cansaço da guerra começa a pesar para ambos os lados. Nesse contexto, propostas como a do Brasil e da China ganham relevância, principalmente entre países que buscam alternativas ao alinhamento automático com os blocos tradicionais.
A presença de Lula em Paris e o tom adotado em sua declaração colocam o Brasil de volta ao centro das discussões internacionais, num esforço diplomático de construir pontes e reposicionar o país como ator relevante em temas globais. Ainda assim, o caminho até um cessar-fogo efetivo parece longo — e, por ora, incerto.